Bonhoeffer acredita que a primeira tarefa ética é a
suspensão do conhecimento do bem e do mal. Nossa inclinação é refutar o mal,
fugir do caminho mau, e andar pela vereda do bem. Segundo a compreensão de
Bonhoeffer, essa é uma armadilha perigosa, pois a queda do ser humano não
consiste em conhecer o mal, mas o bem e o mal. Assim, a tarefa imperiosa da
ética é a suspensão do conhecimento do bem e do mal. Nessa linha, suspendem-se
necessariamente o certo e o errado, a verdade e a mentira.
Bonhoeffer deixa o ser humano sem chão, e, mais
particularmente, o religioso. Isso porque as religiões se estruturam em torno
de códigos de conduta, que ficam totalmente superados mediante a ideia da
suspensão do conhecimento do bem e do mal. O que ele diz teologicamente, e isso
vem de sua experiência concreta, é que não existe a definição de certo e
errado, ou de bem e mal, por antecedência. Somente na situação concreta é que
se define o que fazer mediante o agir responsável, que tem como referência
obrigatória o amor ao próximo na mesma medida em que se ama a si mesmo.
Bonhoeffer cunhou tais conceitos na prisão, e não teve tempo
de levá-los à experiência comunitária de uma igreja.
Talvez a simples menção ao conceito não nos leve imediatamente
à profundidade do compromisso e da responsabilidade que se estabelecem nessa
abordagem teológica. Para Bonhoeffer, o agir responsável o levou a participar
de um plano para executar Hitler. Segundo ele, seu compromisso com Cristo e com
o próximo não deixava outra possibilidade naquela situação.
Seria possível deixar de lado todas as pré-compreensões em
favor do agir responsável?