segunda-feira, 8 de abril de 2013

Bonhoeffer e o agir responsável


Bonhoeffer acredita que a primeira tarefa ética é a suspensão do conhecimento do bem e do mal. Nossa inclinação é refutar o mal, fugir do caminho mau, e andar pela vereda do bem. Segundo a compreensão de Bonhoeffer, essa é uma armadilha perigosa, pois a queda do ser humano não consiste em conhecer o mal, mas o bem e o mal. Assim, a tarefa imperiosa da ética é a suspensão do conhecimento do bem e do mal. Nessa linha, suspendem-se necessariamente o certo e o errado, a verdade e a mentira.

Bonhoeffer deixa o ser humano sem chão, e, mais particularmente, o religioso. Isso porque as religiões se estruturam em torno de códigos de conduta, que ficam totalmente superados mediante a ideia da suspensão do conhecimento do bem e do mal. O que ele diz teologicamente, e isso vem de sua experiência concreta, é que não existe a definição de certo e errado, ou de bem e mal, por antecedência. Somente na situação concreta é que se define o que fazer mediante o agir responsável, que tem como referência obrigatória o amor ao próximo na mesma medida em que se ama a si mesmo.

Bonhoeffer cunhou tais conceitos na prisão, e não teve tempo de levá-los à experiência comunitária de uma igreja.

Talvez a simples menção ao conceito não nos leve imediatamente à profundidade do compromisso e da responsabilidade que se estabelecem nessa abordagem teológica. Para Bonhoeffer, o agir responsável o levou a participar de um plano para executar Hitler. Segundo ele, seu compromisso com Cristo e com o próximo não deixava outra possibilidade naquela situação.

Seria possível deixar de lado todas as pré-compreensões em favor do agir responsável?

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O curioso caso de Benjamin Button

O post de hoje é autobiográfico, e nada tem de teológico. Só está aqui porque ficaria pior escrevê-lo no blog político.

Erasmo Carlos, autor de inúmeras ótimas letras, escreveu entre outras a interessantíssima "Sou uma criança, não entendo nada". A música fala de uma criança que era desculpada pela mãe dos erros cometidos por causa de sua idade, por ser uma criança que não entendia nada. Mas, por dentro era um homem e entendia tudo o que se passava. Após se tornar adulto, o mundo virou de cabeça para baixo: "por dentro, com a alma atarantada, sou uma criança, não entendo nada".

É o curioso caso de Benjamin Button: nasceu velho e morreu novo.

Não fui como Erasmo, pois desde novo, também para os outros eu já parecia velho. E, por dentro, como ele, eu entendia tudo. Entendia demais. Tanto que aos 25 a vida estava toda resolvida, sem nada mais a se apresentar ou a se descortinar. Não que eu fosse um mal sujeito, pelo contrário. Apenas que não havia nada mais a se descobrir, dentro de minha visão reducionista.

Eu tinha a palavra final de tudo, ou quase tudo. A receita era simples: ouvia o que os outros diziam, e ao final  emitia o meu parecer. Neylton desconfiou de mim: porque você sempre fala por último? Num momento de lucidez, confessei: porque acho que sei de tudo... Fui desmascarado diante de mim mesmo.

Na verdade, falar sobre Benjamin Button aqui faz sentido. Isso porque a minha arrogância advinha da falsa percepção que os religiosos têm, e os protestantes em particular, de que conhecem a verdade. E de que a Bíblia tem a última palavra sobre tudo, desde engenharia genética até culinária, passando por astronomia, sexo e esportes.

Dali, aos poucos e bem devagar a princípio, comecei a perder as rugas a caminho da juventude e da adolescência. Hoje já não estou mais tão velho - tenho muitas dúvidas, e nenhuma pretensão de conhecer a verdade. Não chego ao extremo de Erasmo, de ter a alma atarantada e não entender absolutamente nada. Mas, não estou tão longe disso, também, pois a vida as vezes dói na alma, e entender o mundo e as pessoas é muito difícil!

Não sou como o apóstolo Paulo, que quando era menino falava como menino e agia como menino, mas, depois de se tornar adulto, deixou as coisas próprias de menino. Eu retornei às coisas próprias de menino, de adolescente e de jovem, todas essas pessoas que convivem com o adulto antigo que existiu desde sempre e também continua ativo. Talvez um caso mais complicado do que os de Benjamin Button e Erasmo Carlos.