domingo, 31 de maio de 2009

Acerca do perdão

Já tentei, anteriormente, esboçar a idéia do perdão ao ser, e não ao fazer - perdoar o outro pelo que ele é. O desenvolvimento lógico desse conceito é o perdão mútuo ao longo do tempo, no passar dos anos.

O perdão pontual normalmente é mais dolorido no momento, mas cria uma forte sensação de leveza a seguir. O perdão "a longo prazo" é um exercício de dor e paciência continuas, tendo como resultado a leveza mais fragmentada.

Para o estabelecimento de relações saudáveis é necessário o perdão do ser, continuamente.

As relações se corroem na medida em que não conseguimos praticar o perdão contínuo. E o beco sem saída se constata quando enfrentamos o fato de que não é possível viver sem estabelecer relações de convivência.

A prisão do ser nesse ciclo que parece sem fim é resultado de um desajuste cósmico, para o qual esperamos a redenção.

Sede de Deus?

Para mim, tem sido comum ouvir: "as pessoas estão com sede de Deus!"

Verdade? Sede de que deus?

A noção da existência de Deus não varia muito. A idéia de Deus pressupõe um ser superior, o criador do Universo e da vida. Sede de Deus implica, portanto, inicialmente, sede do criador.

Outras implicações daí decorrem.

Se há um Deus criador a existência não é um caos destituído de sentido. Há uma vontade divina a ser seguida - ou não. Sede de Deus implica, em segundo lugar, sede da vontade de Deus.

Para os cristãos, tal vontade foi expressa, de maneira concreta e definitiva, na vida de Jesus de Nazaré: vida de serviço e de entrega.

As pessoas não têm sede desse Deus, têm sede de um deus escravo a sua própria vontade. Têm sede de si próprias, de seus desejos e vontades. Muito menos os cristãos demonstram querer o exemplo de seu primeiro irmão.

Estariam de fato, com sede de Deus? Dispostos a seguir um Deus que seja outro e não elas mesmas?

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Acerca do casamento

Casamento por amor é uma instituição recente. Nessa nova configuração, a constituição das famílias deixou de ser vista como questão funcional, como organização social. O indivíduo ganhou importância e tomou as rédeas da decisão sobre sua união conjugal, em detrimento de outros atores sociais que antes faziam os acertos para o casamento dos jovens.

Trata-se de conquista da modernidade. Será mesmo?

Outra conquista, posterior a essa, é a facilidade para se dar fim ao casamento, como consequência lógica do amor que acaba. Se surgiu por causa do amor, desparece na sua falta.

Dietrich Bonhoeffer resolveu o problema, ao escrever, da prisão, uma alocução para o casamento dos amigos Eberdard e Renate Bethdge: "o amor os trouxe até aqui, de agora em diante o casamento é que sustenta o amor de vocês".

Nessa visão, a conquista pessoal não se degenera na irresponsabilidade social.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Fé engajada?

Esse é o título de uma propaganda da Ultimato que acabo de receber. Pergunto-me: existe tal coisa como uma fé não engajada? Acho que não, ainda mais considerando-se que se trata de fé em Jesus Cristo.

Fé em Jesus Cristo significa engajamento no reino de Deus. Essa idéia não admite a estranha possibilidade que foi criada pelo protestantismo: crer sem obedecer, que equivale à fé sem engajamento.

Não existe tal coisa. Seguir Jesus não se resume a essa crença etérea que o protestantismo supõe existir. Seguir Jesus implica, necessariamente, obediência, ou, na linguagem da Ultimato, engajamento.

Do contrário, não se trata de fé em Jesus Cristo.