sexta-feira, 24 de julho de 2009

Let the river run (Carly Simon)

Deixe que corra o rio, deixe que todos os sonhadores acordem a nação, que venha a nova Jerusalém.

Acordem todos os que dormem e arrependam-se os que praticam o mal, pois já se fazem ouvir as acusações contra os moradores dessa terra, pois seu clamor chegou aos céus. Vem, e vem sem demora, o juízo sobre os injustos, que roubam os pobres, e oprimem as viúvas, e sobre os que, vendo tudo isso, se calam.

As crianças foram abandonadas, os velhos esquecidos. Os esgotos correm a céu aberto, as escolas estão despedaçados e os médicos fogem dos postos de saúde mas não deixam de receber seus salários. Os que se elegem pagam por seus votos e os eleitores alegremente os vendem, por qualquer valor.

Mas vem sobre essa terra o juízo pois nela não se encontraram nem mesmo cinco justos.

Esse juízo é terrível, e vem primeiro sobre a cabeça dos que se dizem representantes do Altíssimo, pois eles transgrediram e transformaram seu nome em chacota. Pois eles não conhecem Jesus e muito menos seu reino. Dão ordens aos céus, enquanto roubam dinheiro do povo. Ai de vós.

Esse mundo está contra Deus.

Ainda há lugar de arrependimento para todos os injustos e acomodados. Ainda é tempo de conversão. Buscai ao Senhor enquanto está perto.

Na luz da madrugada...

... minha alma acorda e brada, bendito seja Deus!

Benditos sejam, também, esses caminhantes que se levantam antes da aurora e protestam contra a morte, bendita seja a sua descendência que herdará uma terra habitável, benditos sejam os seus pés, que anunciam boas novas, benditos sejam seus caminhos pelo sertão no Piauí, terra de Oeiras.

Benditos sejam vocês, combatentes da Força Tarefa Popular enquanto somem na noite ainda escura pelo acostamento das estradas carregandos suas bandeiras, suas boinas amarelas. Benditas aquelas que os geraram, benditos aqueles que os conhecem, benditas sejam suas casas.

Benditos sejam vocês, Totó, César, Carlos, Raquel, Arimatéia, Goreti, Lenilson e João Batista.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Morte, e morte de cruz

A morte de Jesus na cruz significa sacrifício vicário (substitutivo) ou exemplo a ser seguido? Significa que alguém pagou pena por outro, ou que o outro também deve entregar sua vida pelos demais?

A teologia construída por Paulo, e manifesta também na carta aos hebreus, explora significativamente a idéia da morte expiatória de Jesus. Jesus, mesmo, não trata da questão com essa ênfase.

A morte de Jesus parece ser a consequência natural de uma vida que se pautou exclusivamente por valores do reino, fato que provocou a reação dos poderosos.

A pergunta que se segue: devemos descansar na morte de Jesus, por ser ela o emblema da salvação do ser humano, ou dedicarmos nossas vidas ao reino a ponto de corrermos o risco de enfrentarmos uma cruz?

Creio ser necessário dar resposta satisfatória a essa questão, ou, alternativamente, fazer a pergunta certa, caso essa seja a pergunta errada.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A virtude

Já dá para perceber que estou impregnado de Robespierre e da Revolução Francesa... Nesse momento, comento o conceito tão usado pelo Incorruptível, que, na verdade, o toma de Rousseau. Virtude, para ele, é dom supremo, mediante o qual o ser ama e dedica-se à nação, de maneira desprendida vivendo para todos e não só para si.

A Revolução Francesa é marcada por uma fantástica espiritualidade secularizada. Conquanto um de seus alvos de combate seja o clero, sua convocação desenvolve conceitos e linguagem eminentemente religiosos, na medida em que apela para a conversão do ser. Da Revolução deveria surgir o novo ser humano, virtuoso.

Nessa linha de pensamento, o foco na busca do prazer individual é a antítese da virtude, na medida em que o indivíduo deixa de se importar com o povo para satisfazer desejos pessoais. Ainda que a Revolução não se aproprie da cruz, nada há de mais virtuoso do que ela.

Para pensar, e desenvolver melhor.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Robespierre, o incorruptível, a moral e as instituições

Acabo de ler o excelente livro de David P. Jordan sobre a atuação de Robespierre nos anos da Revolução Francesa. Segundo Jordan, amigos e inimigos, desafetos e admiradores, todos reconheciam a integridade de Robespierre, "O Incorruptível".

A despeito de ter sido ele uma das expressões máximas de um período conhecido como Terror, passou para a história conhecido como um homem não corruptível, para quem a virtude era o bem supremo.

Robespierre via a Revolução como a restauração, ou, antes, a introdução de uma nova moralidade, expressa, basicamente, na idéia de que aquele que se identifica com seu semelhante, que assume como suas as causas que são do povo, que é capaz de se compreender como ser comunitário, esse é o novo homem de espírito revolucionário, o produto necessário de toda aquela agitação do final do século XVIII.

Ele era a encarnação viva de seus conceitos, e mais. Desprendido, sem apego aos bens materiais, de vida simples, aparência bem cultivada mas despojada, recatado e casto, Robespierre não decepcionou àqueles que nele viram o modelo da virtude.

Deixo de comentar, até pelo pequeno conhecimento da matéria, a aparente contradição entre esse novo homem revolucionário e o governante sanguinário como muitos o enxergavam. Quanto a isso, creio apenas que suas posições foram o resultado natural de sua própria conduta e condicionamento conceitual, aplicados ao tempo em que viveu.

O que me interessa, nesse momento, é essa forte postulação moral da Revolução, que, conquanto encontrava nele sua melhor expressão, vazava para todo o movimento e tornava-se tema de tantos outros portagonistas do movimento.

No trabalho diário de combate à corrupção, muitos os atores nele envolvidos recusam-se a abordar a questão sob o prisma da moral. Segundo eles, a luta contra esse câncer se dá na via do aperfeiçoamento institucional. Concordo, em parte, com essa percepção.

Olhando com realismo para nosso trabalho, no entanto, percebo que lutamos em duas frentes. De um lado, queremos fazer com que as instituições funcionem, com que o Poder Judiciário condene corruptos, com que os Tribunais de Contas condenem os maus gestores, etc. De outro, fazemos a pregação moral de Robespierre, convidando os indivíduos a tornarem-se seres gregários em sua essência. Fugirem de seu egocentrimo para se dedicarem às causas públicas.

A religião protestante, em grande medida, acreditou que a imposição da moral puritana poderia salvar a humanidade, e modificar a sociedade. Homens transformados transformando a nação. Em grande medida, isso não funcionou (vide o crescimento explosivo dos evangélicos no Brasil). Há algum paralelo com Robespierre, na medida em que ele parecia acreditar que a grande Revolução que dirigia era moral, ou essencialmente moral.

Conceitualmente, não sei afirmar o que é certo e o que é possível. Na prática, nossa luta contra a corrupção tem proposto uma reforma moral e o funcionamento das instituições. Para uma próxima postagem talvez valesse a pena relembrar a sociedade criada por Wilberforce para a recuperação dos valores morais na sociedade de seu tempo.