terça-feira, 7 de maio de 2013

Impossibilidades da teologia

Teologia é uma tentativa de baixo para cima, do menor para o maior, do finito para o infinito. É tarefa necessariamente inacabada, pois o finito jamais poderia compreender o infinito, até o dia em que o finito se tornasse infinito. Em linguagem bíblica, seria possível ainda utilizar essa lógica para a relação entre o servo e o senhor, a ovelha e o pastor, por exemplo.

Aceitar que alguém, em algum momento da história, ou mesmo mediante um processo histórico já terminado, conseguiu compor um completo conhecimento de Deus, ou ao menos de suas intenções, é a negação da percepção lógica acima exposta.

A crença generalizada de que isso seja possível sempre encontra por trás a noção de privilégio, ou seja, de que o infinito tenha escolhido um determinado finito para a ele se manifestar de maneira especial, dando-lhe o conhecimento pleno de si mesmo. A partir daí, tal finito tornou-se o conhecedor e detentor da verdade.

A despeito de minha tradição protestante, e de minha admiração pelo protestantismo, entendo que essa foi uma prática largamente verificada ao longo da história no âmbito desta tradição religiosa. E não só dela, mas também do cristianismo de maneira ampla e do islamismo.

Pensar assim, no entanto, traz consequências de difícil assimilação. Para alguns, a impossibilidade de conhecimento de Deus (no sentido teológico, não na perspectiva das doutrinas relacionais), ou a ideia de uma teologia sempre em evolução, vai se equivaler à noção de rebaixamento do próprio Deus à categoria de  um deus em construção. Para outros, vai gerar um mundo sem paradigmas, referências ou códigos morais, "indispensáveis" à vivência humana.

Obviamente, dentro dessa noção que nada mais é do que uma adaptação de enunciados filosóficos e epistemológicos à teologia, a crítica imediata diz respeito à possibilidade de que mesmo essas noções a respeito do conhecimento de Deus vão ser superadas mediante a evolução do pensamento teológico, e necessariamente perderão o sentido, fato que revela a consequência do relativismo contido nessa ideia.

Minha saída é a fé em Jesus Cristo, e a aceitação de seu ordenamento de amar ao próximo como a si mesmo na condição de valor supremo e referência absoluta na constituição de qualquer teologia. No final, essa solução equivale a um passo no escuro, a uma escolha, a uma decisão não explicável, e, por definição, dogmática. Dado seu valor reconhecidamente universal, e seu caráter minimalista, parece-me ser uma boa escolha.