sábado, 5 de dezembro de 2009

Ainda sobre Brunelli

Temos que parar de vociferar contra Brunelli e avaliar o que está errado. Estou revoltado com ele, sem dúvida, não gosto dele e nunca gostei.

Mas, essa ira é pouco produtiva e não nos leva a lugar algum. Brunelli é simplesmente o produto de nossos enganos - nada mais.

O que temos que fazer é rever a caminhada - a teologia em particular.

Discursos moralistas e condenatórios não farão efeito algum; o protestantismo, como está, não tem mais o que oferecer.

O problema é de fundo, e precisamos de coragem para enfrentar os fatos e suas causas.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Brunelli e o ocaso do protestantismo

A questão que coloco é saber se Brunelli é produto ou negação do protestantismo. Se ele é produto, torna-se necessário rever o protestantismo, se ele é a negação, expurga-se Brunelli. Defendo que Brunelli seja produto, consequência natural da exploração extrema dos princípios fundamentais do protestantismo.

O indivíduo Brunelli, por si, não haveria de determinar a revisão do protestantismo - isso não faria sentido. Brunelli é tomado aqui como o emblema de uma geração evangélica que tem produzido crentes pragmáticos tanto na vivência da fé como na conduta mundana.

De tão emblemático, o episódio da oração de Brunelli contém elementos que apresentam adequados a servir de base para a argumentação aqui proposta. Por motivos didáticos, procurei esboçar a proposta mediante a substituição dos princípios fundamentais do protestantismo por outros semelhantes.

Autoridade suprema de Cristo, em detrimento da autoridade suprema das escrituras. A Bíblia como referência permite que se adotem como padrão diversos de seus personagens, e que se absolutizem as situações ali narradas. Nesse sentido, Jacó pode ser o paradigma do crente moderno, a despeito de sua conduta egocêntrica e trapaceira. Sua conduta, no entanto, não é aceita em condições sociais nas quais já ocorreu o advento do reino de Deus, e a manifestação de Cristo. Nesse ambiente de boas novas, toda conduta há de se submeter ao pressuposto condicionante que é o reino de Deus, e o modelo de cidadão do reino que é Cristo.

A ausência de condenação moral a Jacó na narrativa de Gênesis, e sua escolha para a constituição da nação de Israel, absolutizadas pela autoridade suprema das escrituras, confere ao crente, em função do paradigma, a ideia de que pode dispor das coisas como lhe convem, visto ser ele escolhido. Ele não está vinculado a regras como os demais - é ungido de Deus. Assim é Brunelli.

Em Cristo essa realidade muda de figura, e Jacó aparece como oposição ao procedimento do servo sofredor. Com a autoridade suprema de Cristo, estabelece-se paradigma excludente, no qual qualquer comportamento em oposição ao de Cristo deverá ser rejeitado, não por ser pecaminoso ou por qualquer outra razão de cunho meramente conceitual - será rejeitado porque não se conforma com o padrão de amor, serviço e entrega.

A autoridade suprema de Cristo impõe que a leitura bíblica seja toda feita a partir dele, e escrutinada em função daquilo que falou e viveu.

Diaconato universal de todos os crentes em oposição ao sacerdócio universal de todos os crentes. Lutero ao tentar desmontar a hierarquia e o poder da Igreja, particularmente em relação ao indivíduo, concedeu enorme relevância a essa doutrina periférica no Novo Testamento, que é o sacerdócio universal de todos os crentes. Como elemento de enfrentamento do clero a tese funcionou, mas a custa de elevar todos os crentes à condição de sacerdotes, ou seja, dotados das características próprias deles, em particular o relacionamento privilegiado com Deus, o conhecimento da verdade, a mediação.

Esse simples conceito é o estimulador da fragmentação protestante, na medida em que todos e cada um têm o acesso a Deus e ao conhecimento da verdade, podendo criar suas próprias vias eclesiásticas. Cada um é sacerdote, e cada líder um ungido, escolhido de Deus.

Cristo opôs-se ao sacerdócio, e sua consagração sacerdotal tardia, no livro de Hebreus, é um tanto discutível, visto que ele se apresenta como o servo sofredor. O diaconato, por sua vez, visa incutir no crente a consciência de serviço, de humildade, disposição para a cruz, em oposição ao sacerdote exigente que, por ser próximo a Deus entende-se sujeito de privilégios.

Brunelli é a expressão maior da figura do sacerdote no âmbito evangélico - é o ungido, um mediador, e detentor de privilégios.

O reino de Deus como elemento central do discurso e da prática do crente em oposição ao conceito da salvação pela graça mediante a fé somente. Cristo veio anunciar o reino, e não a salvação das almas dos homens. A salvação remetida para uma vida além dessa promove a acomodação que legitima a ação de Brunelli. Pouco interessa essa vida. Ao contrário disso, o reino que veio e que vem é motivação para a luta diária - nós somos os agentes de sua implantação, à semelhança de Cristo.

O protestantismo contém em si a semente que permite sua releitura. As colocações acima são protesto contra o protestantismo - a apontam para a necessidade de sua revisão. Para quem admite o protestantismo ideologizado isso não será possível, mas para quem o entende como igreja reformada, sempre se reformando, a compreensão pode ser factível.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A oração de Brunelli

Ver o Brunelli orando para agradecer a bênção do dinheiro sujo recebido não me surpreende. Ele, Prudente, Adão Xavier e outros pares sempre deixaram claro que não fazem ideia do que seja o reino de Deus, e, particularmente, os valores desse reino.

É interessante, todavia, notar o processo que leva ao absurdo de se abençoar Durval e o dinheiro advindo da corrupção. Brunelli é o crente que estabelece a dicotomia entre o sacro e o profano, o céu e o inferno, o bem e o mal, sem compreender que, conquanto seja possível estabelecer alguns contornos distintos dessas realidades, nenhum de nós está totalmente identificado com uma ou com outra.

E, pior, ao crer que existem tais distinções, ao adentrar no profano, age conforme as leis desse âmbito profano, visto que as disposições do mundo sacro não dão conta desse novo e estranho mundo. No entanto, mantem algumas práticas sacras, que funcionam no sentido de legitimar o profano, sacralizando-o. Desde que recebidas com ações de graças, quaisquer bênçãos de origem profana podem ser aceitas.

A despeito de toda a identidade que esse crente passa a ter com os não-crentes, o seu mundo permanece dividido entre "nós" e "eles". É interessante, no entanto, que, como já se falou, "nós" acabamos agindo como "eles", e o que traz dinheiro para "nós", apesar de fazer parte "deles", merece a bênção de uma oração. Afinal, se Deus usa até a mula para falar com Balaão porque não poderia usar Durval para abençoar Brunelli? No entanto, Durval, por mais que seja bênção, continua pertencendo a "eles".

Brunelli traz o profano para o sacro, e o santifica. Dinheiro roubado passa a ser bênção: segundo Brunelli, Durval tem sido instrumento de bênção para toda a cidade! Essa passagem é feita mediante outro tráfico iníquo: a privatização do público. Dinheiro de todos que passa a ser, ilegitimamente, propriedade de um.

Cristo nada tem a ver com aqueles que roubam órfãos e viúvas e para justificar fazem longas orações. Arrependei-vos os que praticais a iniquidade, pois está próximo o reino de Deus.