terça-feira, 14 de abril de 2015

Reflexão sobre o evento cristão

Quase que me desculpando, preciso confessar que não consigo compreender a demanda largamente mencionada de se conhecer Deus. Olho para Deus da mesma forma que o Luki me olhava, se é que posso compreender a relação de meu cachorro comigo: esperando que algo aconteça. Não acredito que o Luki tivesse a pretensão de me conhecer, penso que, na minha presença, a única expectativa dele era algum evento, algum ato.

A vida de Cristo, em particular sua morte e ressurreição, constitui o evento cristão. A partir dele, pode-se procurar conhecer Deus, ou, olhando adiante, especular e promover o evento escatológico.

Em grande parte do movimento protestante, e evangélico, optou-se pelo conhecimento da essência de Deus, nomeando essa tarefa como o grande desafio da humanidade. Desconfio que a tarefa tome tempo precioso, e que não permita qualquer resultado além daquele que o olhar do Luki para mim permitia - nunca vou compreender esse ser, apenas creio em sua existência e espero pelos desdobramentos de seu evento histórico, tentando deles participar efetivamente.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Cristianismo, Cristocentrismo

Uma pergunta central para a compreensão do fenômeno da formação, expansão e continuidade da religião cristã diz respeito ao seu personagem maior: Jesus, o Cristo. O Cristianismo, afinal, é uma religião fundada na mensagem de Cristo ou na mensagem sobre Cristo? A mensagem de Cristo são suas palavras e ações. A mensagem sobre Cristo é o olhar teológico que Paulo lança sobre Cristo e constrói o fundamento desta religião bimilenial.

A mensagem de Cristo é o reino de Deus e sua justiça. A mensagem de Paulo é Cristo e o significado de sua vida.

Em função da dogmática cristã não é possível discutir as inconveniências percebidas nas contradições entre a mensagem de um e de outro. Por exemplo, é de difícil compreensão a análise teológica que Paulo fornece em Efésios 2:8-10, fundamento do conceito de salvação pela graça, em contraposição com a afirmação de Cristo em Mateus 25:31-46, quando diz que irão para a vida eterna os justos, aqueles que alimentaram os famintos e vestiram os nus. Há que se fazer muita pirotecnia teológica para que seja possível harmonizar esses dois textos. Será necessário dizer que Cristo não queria bem dizer o que disse quando disse o que disse...

São evidentes as distinções entre o pensamento dos discípulos e o de Paulo, e a dissensão entre ele e Pedro. É bastante distinta a experiência da igreja de Jerusalém das demais mencionadas na Bíblia. Não existe qualquer menção de que essas outras tenham experimentado aquela vivência intensa dos valores do reino conforme se viu em Jerusalém. A igreja que viveu a mensagem de Cristo morreu, e permaneceu aquela que foi erigida na mensagem sobre Cristo.