sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Amar ao próximo como a si mesmo

O pensamento fragmentário da pós-modernidade encontrou terreno fértil no universo protestante, em função de um dos princípios da Reforma: o sacerdócio universal de todos os crentes. Cada um tem acesso direto a Deus, sem intermediários, abrindo-se a possibilidade de que cada um creia conforme suas próprias convicções e não segundo modelo imposto pela autoridade eclesiástica.

Essa possibilidade contrasta-se com a preferência do crente em ser dirigido por uma liderança, em vez de pensar por si próprio. Os mais astutos "nadam de braçadas" nessa situação, aproveitando-se da ausência de um centro que coordene as atividades religiosas e da boa vontade de fiéis dispostos a segui-los, pagando para isso.

Mais do que um desenvolvimento teológico, o neopentecostalismo é fruto dessa possibilidade histórica, é resultado de um ambiente propício, fértil para seu aparecimento, que só poderia ocorrer na esteira do protestantismo, pelo que já se disse anteriormente.

No ambiente caótico que se instalou, as lideranças do chamado protestantismo histórico projetam duas alternativas: reformar a Reforma, ou promover a unidade. São poucas as possibilidades de sucessos dessas duas linhas de ação.

A Reforma protestante foi realizada por um monge agostiniano contra um inimigo claramente identificável: a Igreja Romana. Essa é uma das razões de seu sucesso. A impossibilidade de reformar a Reforma se estabelece porque não se sabe quem é quem, ou, mais precisamente, contra quem a nova Reforma seria realizada. Quem é inimigo - o neopentecostalismo? Se ele é o vilão, quais são as organizações contra quem o protestantismo histórico vai lutar? Seria impossível delimitar esse universo, em função da enorme fragmentação de comunidades no chamado meio evangélico, cada qual com seus pressupostos teológicos e doutrinários, muitas vezes confusos e não classificáveis.

Promover a unidade do universo evangélico é uma impossibilidade concreta, na medida em que cada igreja protestante tem a faculdade de pensar como quer. E pelo fato de que os líderes dos movimentos de unidade têm óbvias dificuldades em afirmar quem não pode participar deles. O movimento de unidade teria duas possibilidades teóricas de sucesso: primeiramente, a unidade a partir da ação, ou seja, o estabelecimento de uma agenda comum de atividades, que visasse ao bem comum - mas não é razoável pensar na possibilidade de sucesso de uma ação como essa, dado a dificuldade de mobilização e ação social das igrejas evangélicas. A segunda possibilidade, a unidade a partir de um conjunto mínimo de pressupostos teológicos, que pudesse ser ao mesmo tempo catalisador entre os evangélicos históricos e excludente em relação ao neopentecostalismo - ou religião de resultados -, também de difícil concretização.

Não vejo grandes possibilidades de sucesso em nenhuma dessas linhas de ação, embora, no mundo das esperanças, eu vislumbre um universo de cidadãos orientados por uma preocupação minimalista de amar ao próximo como a si mesmo, agindo de maneira responsável em cada situação da vida a partir desse conceito. A crise do protestantismo na pós-modernidade tem a possibilidade de promover o surgimento desse movimento minimalista, que me parece mais próximo daquilo que Cristo viveu e pregou do que as igrejas vêm fazendo ao longo dos séculos.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Impossibilidades da teologia

Teologia é uma tentativa de baixo para cima, do menor para o maior, do finito para o infinito. É tarefa necessariamente inacabada, pois o finito jamais poderia compreender o infinito, até o dia em que o finito se tornasse infinito. Em linguagem bíblica, seria possível ainda utilizar essa lógica para a relação entre o servo e o senhor, a ovelha e o pastor, por exemplo.

Aceitar que alguém, em algum momento da história, ou mesmo mediante um processo histórico já terminado, conseguiu compor um completo conhecimento de Deus, ou ao menos de suas intenções, é a negação da percepção lógica acima exposta.

A crença generalizada de que isso seja possível sempre encontra por trás a noção de privilégio, ou seja, de que o infinito tenha escolhido um determinado finito para a ele se manifestar de maneira especial, dando-lhe o conhecimento pleno de si mesmo. A partir daí, tal finito tornou-se o conhecedor e detentor da verdade.

A despeito de minha tradição protestante, e de minha admiração pelo protestantismo, entendo que essa foi uma prática largamente verificada ao longo da história no âmbito desta tradição religiosa. E não só dela, mas também do cristianismo de maneira ampla e do islamismo.

Pensar assim, no entanto, traz consequências de difícil assimilação. Para alguns, a impossibilidade de conhecimento de Deus (no sentido teológico, não na perspectiva das doutrinas relacionais), ou a ideia de uma teologia sempre em evolução, vai se equivaler à noção de rebaixamento do próprio Deus à categoria de  um deus em construção. Para outros, vai gerar um mundo sem paradigmas, referências ou códigos morais, "indispensáveis" à vivência humana.

Obviamente, dentro dessa noção que nada mais é do que uma adaptação de enunciados filosóficos e epistemológicos à teologia, a crítica imediata diz respeito à possibilidade de que mesmo essas noções a respeito do conhecimento de Deus vão ser superadas mediante a evolução do pensamento teológico, e necessariamente perderão o sentido, fato que revela a consequência do relativismo contido nessa ideia.

Minha saída é a fé em Jesus Cristo, e a aceitação de seu ordenamento de amar ao próximo como a si mesmo na condição de valor supremo e referência absoluta na constituição de qualquer teologia. No final, essa solução equivale a um passo no escuro, a uma escolha, a uma decisão não explicável, e, por definição, dogmática. Dado seu valor reconhecidamente universal, e seu caráter minimalista, parece-me ser uma boa escolha.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Bonhoeffer e o agir responsável


Bonhoeffer acredita que a primeira tarefa ética é a suspensão do conhecimento do bem e do mal. Nossa inclinação é refutar o mal, fugir do caminho mau, e andar pela vereda do bem. Segundo a compreensão de Bonhoeffer, essa é uma armadilha perigosa, pois a queda do ser humano não consiste em conhecer o mal, mas o bem e o mal. Assim, a tarefa imperiosa da ética é a suspensão do conhecimento do bem e do mal. Nessa linha, suspendem-se necessariamente o certo e o errado, a verdade e a mentira.

Bonhoeffer deixa o ser humano sem chão, e, mais particularmente, o religioso. Isso porque as religiões se estruturam em torno de códigos de conduta, que ficam totalmente superados mediante a ideia da suspensão do conhecimento do bem e do mal. O que ele diz teologicamente, e isso vem de sua experiência concreta, é que não existe a definição de certo e errado, ou de bem e mal, por antecedência. Somente na situação concreta é que se define o que fazer mediante o agir responsável, que tem como referência obrigatória o amor ao próximo na mesma medida em que se ama a si mesmo.

Bonhoeffer cunhou tais conceitos na prisão, e não teve tempo de levá-los à experiência comunitária de uma igreja.

Talvez a simples menção ao conceito não nos leve imediatamente à profundidade do compromisso e da responsabilidade que se estabelecem nessa abordagem teológica. Para Bonhoeffer, o agir responsável o levou a participar de um plano para executar Hitler. Segundo ele, seu compromisso com Cristo e com o próximo não deixava outra possibilidade naquela situação.

Seria possível deixar de lado todas as pré-compreensões em favor do agir responsável?

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O curioso caso de Benjamin Button

O post de hoje é autobiográfico, e nada tem de teológico. Só está aqui porque ficaria pior escrevê-lo no blog político.

Erasmo Carlos, autor de inúmeras ótimas letras, escreveu entre outras a interessantíssima "Sou uma criança, não entendo nada". A música fala de uma criança que era desculpada pela mãe dos erros cometidos por causa de sua idade, por ser uma criança que não entendia nada. Mas, por dentro era um homem e entendia tudo o que se passava. Após se tornar adulto, o mundo virou de cabeça para baixo: "por dentro, com a alma atarantada, sou uma criança, não entendo nada".

É o curioso caso de Benjamin Button: nasceu velho e morreu novo.

Não fui como Erasmo, pois desde novo, também para os outros eu já parecia velho. E, por dentro, como ele, eu entendia tudo. Entendia demais. Tanto que aos 25 a vida estava toda resolvida, sem nada mais a se apresentar ou a se descortinar. Não que eu fosse um mal sujeito, pelo contrário. Apenas que não havia nada mais a se descobrir, dentro de minha visão reducionista.

Eu tinha a palavra final de tudo, ou quase tudo. A receita era simples: ouvia o que os outros diziam, e ao final  emitia o meu parecer. Neylton desconfiou de mim: porque você sempre fala por último? Num momento de lucidez, confessei: porque acho que sei de tudo... Fui desmascarado diante de mim mesmo.

Na verdade, falar sobre Benjamin Button aqui faz sentido. Isso porque a minha arrogância advinha da falsa percepção que os religiosos têm, e os protestantes em particular, de que conhecem a verdade. E de que a Bíblia tem a última palavra sobre tudo, desde engenharia genética até culinária, passando por astronomia, sexo e esportes.

Dali, aos poucos e bem devagar a princípio, comecei a perder as rugas a caminho da juventude e da adolescência. Hoje já não estou mais tão velho - tenho muitas dúvidas, e nenhuma pretensão de conhecer a verdade. Não chego ao extremo de Erasmo, de ter a alma atarantada e não entender absolutamente nada. Mas, não estou tão longe disso, também, pois a vida as vezes dói na alma, e entender o mundo e as pessoas é muito difícil!

Não sou como o apóstolo Paulo, que quando era menino falava como menino e agia como menino, mas, depois de se tornar adulto, deixou as coisas próprias de menino. Eu retornei às coisas próprias de menino, de adolescente e de jovem, todas essas pessoas que convivem com o adulto antigo que existiu desde sempre e também continua ativo. Talvez um caso mais complicado do que os de Benjamin Button e Erasmo Carlos.

domingo, 10 de março de 2013

Jesus e o templo

É pouco provável a presença de Jesus no templo.

Ele lá esteve duas vezes. Na primeira, quando subiu com seus pais para adorar, fez o que pode para impressionar, para aparecer, talvez por causa da idade. Não voltou com sua família para casa depois dos sacrifícios; ficou discorrendo seu conhecimento para impressionar os mestres da lei. Quando encontrado por seus pais aflitos, saiu-se com uma pérola: vocês não sabiam que me cumpria estar na casa de meu pai? Deixou todos calados.

Alguma coisa aconteceu ao longo de um tempo aproximado de vinte anos: Jesus mudou muito, ou o templo mudou muito. De fato, quem mudou foi Jesus. Já maduro, e completamente consciente de sua caminhada, sua próxima visita ao templo não foi lá muito agradável: derrubou as mesas dos cambistas, causando um bom tumulto no local. De quebra, disse que aquele local era um covil de bandidos e salteadores.

Uma terceira história precisa ser lembrada, ainda que não se refira à presença de Jesus no templo. Trata-se da destruição causada quando de sua morte, quando o véu do santuário se rasgou.

Não me parecer ser muito boa a relação de Jesus com o templo, aliás, parece não haver relação. Jesus preferiu caminhar pela cidade, entre o povo, a frequentar o templo. Não sei porque seria diferente hoje. Acho que Jesus não gosta muito do templo, até porque parece que o templo carrega em si esse risco grande de se tornar um local de negócios, deixando de lado as ideias de casa do Pai e casa de oração para todos os povos.

sábado, 9 de março de 2013

Reflexões sobre a fé

Tenho concluído que é a fé é um elemento autônomo, sem objeto. Quem tem fé, ordena que uma montanha passe daqui para acolá, e lá se vai o monte de terra. Quem disse isso foi o Senhor Jesus, sem acrescentar qualquer objeto ao elemento fé. Ou seja, Jesus não disse que mover a montanha seria um ato de fé nele, Jesus, mas, simplesmente, um ato de fé.

A fé é um elemento raro - graças ao próprio Deus, que é quem a dá, visto que segundo o apóstolo Paulo se trata de um dom. Mas ele a dá com parcimônia. Imagine, por exemplo, que se Ele me tivesse dado fé, o Aconcágua já estaria ali no Parque Nacional, entre a Granja do Torto e o Colorado. E, depois dessa extravagância, eu traria também alguns dos lagos que circundam San Martin de Los Andes.

Concluo, também, que se a fé é dom, não há como desenvolvê-la, fazê-la crescer. A fé existe ou não, se manifesta ou não, aparece ou não.

Parece-me, também, que há duas naturezas distintas para a fé. Primeiramente a fé que crê: eu creio em Deus, embora nunca o tenha visto. Eu creio na ressurreição de Cristo, embora não tenha sido transmitida pela TV. Em segundo lugar, a fé que faz: é essa que traz o Aconcágua para Brasília.

A primeira fé é indispensável para a construção da esperança. Alguns vão brigar comigo dizendo que é o oposto. Mas, vou ficar com essa sequência mesmo, pelo seguinte: é minha fé na ressurreição de Cristo que me faz esperar a redenção. Então, a fé é indispensável para a construção da esperança.

A segunda fé é um perigo. Basta pensar que eu sou capaz de trazer o Aconcágua para Brasília, para satisfazer meus desejos pessoais. Mas, antes de prosseguir, mais uma distinção conceitual é importante. É necessário pensar em utilização excludente e includente da fé. Veja, o pai que pede proteção ao filho que sai dirigindo a noite não condenou ninguém a algum tipo de perda se o pedido for atendido. No entanto, se eu trouxer o pico mais alto das Américas para Brasília, vou gerar muita tristeza de gente que não mais poderá contemplá-lo.

A fé excludente, portanto, é um perigo. Se eu quero ficar rico, alguns vão ficar pobres. Se eu quero um carro novo, alguns terão um carro velho. Se eu quero muita terra para mim, alguém vai ficar sem terra. E por aí vai. É a fé egocêntrica, que só pensa em si.

Marco Feliciano subiu ao palco de sua igreja e começou a falar sobre o sofrimento em Darfur. Pediu que todos esquecessem suas dores e crises naquele momento para juntos intercederem por aquela terra esquecida. Depois de grande pranto e quebrantamento, decidiu doar 90% do que tem para os miseráveis de Darfur, e convocou os ouvintes a darem com liberalidade também. Eles oraram com fé, e se fez paz em Darfur. O dinheiro enviado ajudou na reconstrução. Se Jesus ressuscitou, e assim eu creio, tal conversão de Marco Feliciano é possível, e assim eu espero.

Até Marco Feliciano será redimido.



terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Evangelização

Nunca tive muita dificuldade em comunicar minha fé, e, de maneira mais específica, tentar levar outras pessoas a crer no que creio - ou, evangelizar no sentido usual da palavra no meio protestante. Já fiz de tudo em termos de evangelização, até mesmo para provar a mim mesmo minha devoção a Jesus Cristo. Agi assim, ao longo de muitos anos - quase trinta e cinco, considerando que minha militância proselitista começa quando eu tinha a idade de 11 anos.

Fico um pouco pasmo com a dificuldade que outros crentes têm de comunicar sua fé. Há pouco tempo atrás, a igreja que frequento resolveu transferir sua atividade da manhã de domingo para o eixão. Lá fui eu. Entendi que a ideia era evangelizar os transeuntes. Peguei os folhetos e fui fazer isso - praticamente sozinho. Fiz apesar de não mais entender que a boa nova do reino deva ser comunicada com propósitos proselitistas, e, sim, ser vivida no dia a dia.

Deixar de crer que se deva cooptar outros para sua própria fé é um alívio. Pois o crente sempre se sente em dívida com Deus e todos, porque não tem coragem de pregar o evangelho, e muitas almas podem ir diretamente para o inferno se não acatarem a mensagem da salvação em Cristo. Assim, aquele que deixa de crer nessa imposição, sente-se livre de enorme peso.

E, qual foi a mudança que me fez parar de pregar o evangelho?

Em primeiro lugar, a ideia de que existe uma contradição entre salvação da alma e ressurreição dos mortos, e que a pregação genuína do cristianismo é a segunda opção, e não a primeira, que seria uma herança grega embutida no cristianismo, conforme nos explica Oscar Cullmann. O que estaria a nossa frente seria a redenção da humanidade, mediante a ressurreição dos mortos, e não a salvação das almas daqueles que confessaram o nome de Jesus Cristo como seu salvador pessoal, ainda em vida, mediante um passo de fé.

Essa compreensão desloca a atenção que o cristão coloca nas regiões celestes e no futuro distante para a terra e o presente. A redenção que ocorre na história vem como promessa mas é construída pelos discípulos do Salvador.

Em segundo lugar, porque a conversão a um credo e a um código moral não me parecem, hoje, fazer algum sentido. A conversão que a cruz de Cristo requer de alguém é a conversão ao próximo, como única forma de se converter a Deus. Ainda que seu nome não seja confessado em alta voz. A confissão silenciosa de quem ama é muito mais concreta do que a confissão barulhenta de quem continua amando mais a si próprio do que ao próximo, este mal que é a fonte de toda a corrupção humana.

Em terceiro lugar, porque não faz sentido acreditar que a salvação de alguém, qualquer que seja a compreensão desse conceito, depende de uma pregação e uma conversão a um credo. Se isso faz algum sentido, mesmo no ocidente cristão seria impossível oferecer tal pregação a todos, o que se dirá da África e da Ásia.

Conquanto o discurso acima possa - e vá ser - rotulado de liberal, o fato é que a opção pela vivência da boa nova do reino, com suas exigências, é uma tarefa muito mais dura do que o exercício da pregação evangelizadora. É fácil passar a manhã de domingo no eixão distribuindo folhetos e levando a mensagem da salvação, conforme a entende o protestantismo ortodoxo. Difícil é atender às exigências desse evangelho, ou à exigência do evangelho, que é única: amar ao próximo como a si mesmo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Salvação da alma x ressurreição dos mortos em Les Miserables

Creio que Les Miserables ainda vai render alguns dias de reflexão, tal o impacto que o filme me causou. Como eu nunca havia visto antes, a história propõe a acomodação de dois conceitos cristãos excludentes: salvação da alma e ressurreição dos mortos. Jean Valjean é liberto de seus sofrimentos e recebido na eternidade, cena que é seguida da imagem de Paris redimida e dos insurgentes ressuscitados.

A letra da música final é maravilhosa, e aponta para a redenção da humanidade:

Do you hear the people sing?
Singing the song of angry men?
It is the music of a people
Who will not be slaves again!
When the beating of your heart,
Echoes the beating of the drums,
There is a life about to start,
When tomorrow comes.

Will you join in our crusade?
And will be strong and stand with me?
Beyond the barricade,
Is there a world you long to see?

Then join in the fight,
That will give you the right to be free!

Will you give all you can give,
So that our banner may advance,
Some will fall and some will live,
Will you stand up and take your chance?
The blood of the martyrs,
Will water the meadows of France.

Há uma vida pronta para começar, mas depende de luta, de engajamento. O reino dos céus vem por esforço. A redenção vem na história mediante a participação humana, ainda que seja prometida.

Você vai se juntar à nossa cruzada? Você deseja viver em um outro mundo, que se vê somente por trás da barricada? Nessa jornada, alguns vão cair - você está disposto a correr o risco? A lutar para libertar os escravizados? Há pessoas cantando e marchando, você consegue ouvir? Mas só venceremos quando o bater dos corações superar o bater dos tambores - há pouca gente nas barricadas.

Talvez seja melhor continuar tranquilo, deitado no sofá da sala, aguardando a salvação da alma.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Os miseráveis

Assistir a um filme como Les Miserables é um misto de emoção profunda e desabafo. Emoção profunda por ver as boas novas do reino serem pregadas de maneira tão bela. Desabafo contra uma igreja da qual talvez eu já devesse ter desistido, por sua incapacidade absoluta de entender o que significa seguir a Cristo.

Em duas ou três horas a magnífica história de redenção individual e comunitária é explicada de maneira clara como dificilmente ouvimos vindo dos púlpitos das igrejas.

"Do you hear the people sing" me comoveu. Você pode ver algo além das barricadas? Há, sim, uma redenção prometida, da qual somos partícipes ativos, atores. Sem barricadas ela não virá. Foi prometida, mas precisa ser alcançada por meio do esforço.

"Show some mercy" ou algo assim é um denúncia poderosa contra a pobreza, tolerada e perpetuada pelos insensíveis.

Há muitas outras belas lições no filme. Inúmeras. Que história!