sábado, 9 de março de 2013

Reflexões sobre a fé

Tenho concluído que é a fé é um elemento autônomo, sem objeto. Quem tem fé, ordena que uma montanha passe daqui para acolá, e lá se vai o monte de terra. Quem disse isso foi o Senhor Jesus, sem acrescentar qualquer objeto ao elemento fé. Ou seja, Jesus não disse que mover a montanha seria um ato de fé nele, Jesus, mas, simplesmente, um ato de fé.

A fé é um elemento raro - graças ao próprio Deus, que é quem a dá, visto que segundo o apóstolo Paulo se trata de um dom. Mas ele a dá com parcimônia. Imagine, por exemplo, que se Ele me tivesse dado fé, o Aconcágua já estaria ali no Parque Nacional, entre a Granja do Torto e o Colorado. E, depois dessa extravagância, eu traria também alguns dos lagos que circundam San Martin de Los Andes.

Concluo, também, que se a fé é dom, não há como desenvolvê-la, fazê-la crescer. A fé existe ou não, se manifesta ou não, aparece ou não.

Parece-me, também, que há duas naturezas distintas para a fé. Primeiramente a fé que crê: eu creio em Deus, embora nunca o tenha visto. Eu creio na ressurreição de Cristo, embora não tenha sido transmitida pela TV. Em segundo lugar, a fé que faz: é essa que traz o Aconcágua para Brasília.

A primeira fé é indispensável para a construção da esperança. Alguns vão brigar comigo dizendo que é o oposto. Mas, vou ficar com essa sequência mesmo, pelo seguinte: é minha fé na ressurreição de Cristo que me faz esperar a redenção. Então, a fé é indispensável para a construção da esperança.

A segunda fé é um perigo. Basta pensar que eu sou capaz de trazer o Aconcágua para Brasília, para satisfazer meus desejos pessoais. Mas, antes de prosseguir, mais uma distinção conceitual é importante. É necessário pensar em utilização excludente e includente da fé. Veja, o pai que pede proteção ao filho que sai dirigindo a noite não condenou ninguém a algum tipo de perda se o pedido for atendido. No entanto, se eu trouxer o pico mais alto das Américas para Brasília, vou gerar muita tristeza de gente que não mais poderá contemplá-lo.

A fé excludente, portanto, é um perigo. Se eu quero ficar rico, alguns vão ficar pobres. Se eu quero um carro novo, alguns terão um carro velho. Se eu quero muita terra para mim, alguém vai ficar sem terra. E por aí vai. É a fé egocêntrica, que só pensa em si.

Marco Feliciano subiu ao palco de sua igreja e começou a falar sobre o sofrimento em Darfur. Pediu que todos esquecessem suas dores e crises naquele momento para juntos intercederem por aquela terra esquecida. Depois de grande pranto e quebrantamento, decidiu doar 90% do que tem para os miseráveis de Darfur, e convocou os ouvintes a darem com liberalidade também. Eles oraram com fé, e se fez paz em Darfur. O dinheiro enviado ajudou na reconstrução. Se Jesus ressuscitou, e assim eu creio, tal conversão de Marco Feliciano é possível, e assim eu espero.

Até Marco Feliciano será redimido.



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