terça-feira, 7 de julho de 2009

Robespierre, o incorruptível, a moral e as instituições

Acabo de ler o excelente livro de David P. Jordan sobre a atuação de Robespierre nos anos da Revolução Francesa. Segundo Jordan, amigos e inimigos, desafetos e admiradores, todos reconheciam a integridade de Robespierre, "O Incorruptível".

A despeito de ter sido ele uma das expressões máximas de um período conhecido como Terror, passou para a história conhecido como um homem não corruptível, para quem a virtude era o bem supremo.

Robespierre via a Revolução como a restauração, ou, antes, a introdução de uma nova moralidade, expressa, basicamente, na idéia de que aquele que se identifica com seu semelhante, que assume como suas as causas que são do povo, que é capaz de se compreender como ser comunitário, esse é o novo homem de espírito revolucionário, o produto necessário de toda aquela agitação do final do século XVIII.

Ele era a encarnação viva de seus conceitos, e mais. Desprendido, sem apego aos bens materiais, de vida simples, aparência bem cultivada mas despojada, recatado e casto, Robespierre não decepcionou àqueles que nele viram o modelo da virtude.

Deixo de comentar, até pelo pequeno conhecimento da matéria, a aparente contradição entre esse novo homem revolucionário e o governante sanguinário como muitos o enxergavam. Quanto a isso, creio apenas que suas posições foram o resultado natural de sua própria conduta e condicionamento conceitual, aplicados ao tempo em que viveu.

O que me interessa, nesse momento, é essa forte postulação moral da Revolução, que, conquanto encontrava nele sua melhor expressão, vazava para todo o movimento e tornava-se tema de tantos outros portagonistas do movimento.

No trabalho diário de combate à corrupção, muitos os atores nele envolvidos recusam-se a abordar a questão sob o prisma da moral. Segundo eles, a luta contra esse câncer se dá na via do aperfeiçoamento institucional. Concordo, em parte, com essa percepção.

Olhando com realismo para nosso trabalho, no entanto, percebo que lutamos em duas frentes. De um lado, queremos fazer com que as instituições funcionem, com que o Poder Judiciário condene corruptos, com que os Tribunais de Contas condenem os maus gestores, etc. De outro, fazemos a pregação moral de Robespierre, convidando os indivíduos a tornarem-se seres gregários em sua essência. Fugirem de seu egocentrimo para se dedicarem às causas públicas.

A religião protestante, em grande medida, acreditou que a imposição da moral puritana poderia salvar a humanidade, e modificar a sociedade. Homens transformados transformando a nação. Em grande medida, isso não funcionou (vide o crescimento explosivo dos evangélicos no Brasil). Há algum paralelo com Robespierre, na medida em que ele parecia acreditar que a grande Revolução que dirigia era moral, ou essencialmente moral.

Conceitualmente, não sei afirmar o que é certo e o que é possível. Na prática, nossa luta contra a corrupção tem proposto uma reforma moral e o funcionamento das instituições. Para uma próxima postagem talvez valesse a pena relembrar a sociedade criada por Wilberforce para a recuperação dos valores morais na sociedade de seu tempo.

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