segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Perdoa-nos as nossas dívidas

Assim como nós perdoamos os nossos devedores. Quando pequeno eu corrigi o texto, mudando essa primeira frase para assim como nós deveríamos perdoar os nossos devedores. Eu não contava com os versículos que vêm após o final da oração: porque se vós não perdoardes os vossos devedores tampouco vosso pai vos perdoará as vossas dívidas.

Parece-me restar muito pouco espaço para interpretações, com a elucidação que Jesus faz. O perdão é condicional. Deus me perdoa na medida em que eu perdoo.

Mas, do que Jesus está falando? Quero dizer, o que faço de equivocado que precisa ser perdoado? Será que se trata das longas listas de proibições que as religiões criam, mas que pouco têm a ver com o evangelho de Jesus? Duvido. Elas são códigos nossos, cuja transgressão acarreta sanções imediatas por parte das comunidades que os adotam.

O perdão de Deus refere-se a coisas mais robustas, mais valiosas, mais significativas, mais relevantes. Deus está falando sobre obediência à sua vontade, essencialmente do amor ao próximo. Nossas dívidas referem-se ao que teríamos que fazer e não fizemos, em relação ao próximo, e não ao que supostamente eu não devo fazer e fiz.

Essa inversão é um dos grandes perigos do cristianismo, pois o cristão sente-se em paz se consegue se manter longe dos erros condenados nos códigos religiosos, sabendo ainda que, uma vez cometidos, a questão pode ser resolvida mediante a confissão e o pedido de perdão. Não, efetivamente não são essas as nossas dívidas. Não reputo que esses códigos sejam totalmente sem valor, pelo contrário, eles existem com o fim de se manter estáveis e harmônicas as relações sociais.

Mas, para efeito de aplicação do que Jesus apresenta na oração que nos ensina esses códigos só têm valor na medida em que seus dispositivos não sejam obrigações de não fazer, mas, muito mais do que isso, obrigações de fazer. Obrigações de não fazer só fazem sentido quando, efetivamente, promovem o bem do próximo.

Está em dívida quem deveria fazer e não faz. Há perdão para isso, desde que se perde aqueles que também deveriam ter feito e não fizeram.

Um comentário:

Alcinélia disse...

Excelente reflexão, faz-nos aprofundar na questão do que realmente são as nossas dívidas. Será o ^mal^ que fazemos ou o ^bem^ que não fazemos e que deveríamos fazer...
Além dessas questões, vislumbro também a questão do perdoarmos a nós mesmos, penso que se não nos perdoarmos, não nos sentiremos capazes de receber ou aceitar o perdão de Deus!!
Neste contexo, se não nos perdoamos, como vamos receber o perdão de Deus e perdoar o próximo??